quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Trago à vocês uma matéria que fiz com minha parceira Nayara Carmo no Leuceminas. É uma casa de apoio, não-governamental que faz tratamento de pacientes com leucemia.


Leucemia e o Preconceito

Mesmo com o reconhecimento da cura e a não infecção por contato físico, a doença ainda gera preconceito na sociedade


“O preconceito ainda existe, só está disfarçado”, afirma Luciana Matozinhos, 36. Ela é filha de Antônio Matozinhos, fundador da Casa Leuceminas no bairro Caiçara em Belo Horizonte. Ele fundou a casa de apoio logo após descobrir que a filha era portadora de leucemia. Hoje, Luciana está curada, grávida, e é auxiliadora na casa que ajuda mais de 300 portadores da doença por ano.

Luciana detalha como o preconceito é vigente na sociedade “quando vou ao médico e digo que já fui leucêmica, eles já me olham de maneira estranha e parecem nem acreditar que estou curada”.

Ela conta como a falta de informação agrava o preconceito na sociedade. Muitas pessoas acham que a doença é transmissível apenas pelo contato físico. “Algumas pessoas chegam aqui e têm receio de beber um copo de água ou comer da mesma comida que os demais”, diz Luciana.

Ela também fala como o preconceito se faz mais presente nas classes média e alta. Algo estranho, já que são classes que têm maior acesso à educação e informação.

“A classe baixa parece mais preparada para enfrentar o problema, ela se comove e sente o que está acontecendo”, diz Luciana.

Ela acentua que esse quadro muda apenas quando surgem doentes nas famílias de classe alta, “só assim é que os ricos passam a se importar mais com os doentes, passando até mesmo a visitar a casa”.

O preconceito pela leucemia atinge todas as idades de diversas formas. Dentro de ônibus, restaurantes e escolas. Luciana conta como teve que enfrentar o preconceito durante sua adolescência “tive que estudar oito anos com professores particulares por não poder ir à escola”. Ela fala que para uma criança ou adolescente, a escola que deveria ser o apoio e a distração, acaba sendo seu tormento. “É mais fácil trocar a criança da escola do que mudar a cabeça de todos ao seu redor”, fala.

Uma das principais consequências do preconceito é o trauma psicológico. Além do tratamento contra a doença, muitas vezes é necessário tratamento psicológico com os pacientes que se sentem excluídos da sociedade.

Ana Luíza, 29, é paciente da Casa Leuceminas há cinco anos “Já tive que sair de dentro de um restaurante para comer no passeio por causa dos olhares das pessoas”, conta.

Por causa dos sintomas do tratamento, como o inchaço, a leucemia muitas vezes é confundida com outras doenças, agravando assim o preconceito.

De acordo com a Constituição, quem pratica preconceito pode sofrer sanções na esfera civil por danos morais e na esfera penal por calúnia, injúria e difamação. “É algo que pode e deve ser combatido”, diz a advogada Graciela Ribeiro.

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